Apresentação

MemoLutas – Vale do Submédio São Francisco

O Memorial das lutas sociais do Vale do Submédio São Francisco foi construído com os objetivos combinados de abrigar entrevistas e análises produzidas pelos grupos de trabalho do Núcleo Temático Memórias e lutas sociais no Vale do Submédio São Francisco e de auxiliar e ampliar o alcance das demandas reclamadas pelas pessoas que compõem essas frentes de luta.

Esses objetivos nasceram da confluência de dois projetos de extensão, que provocaram a urgência do NT e do Memorial. O primeiro deles, Projeto nacional de formação em educação e diversidade camponesa, coordenado nacionalmente pelos professores Cláudio Lopes Maia, Ismar da Silva Costa e Jadir de Morais Pessoa, todos da Universidade Federal de Goiás (UFG), dirigido a agentes sociais que atuam em condições de conflito agrário, foi executado no Polo Nordeste sob a coordenação regional de Marina Rocha Braga (CPT Juazeiro – Centro Norte Bahia), Maria Aparecida de Jesus Silva (CPT Senhor do Bonfim – Centro Norte da Bahia), Vanúbia Martins de Oliveira (CPT Campina Grande – Nordeste II) e Adalton Marques (Univasf). Dividido em quatro módulos – os três primeiros realizados no Espaço Plural da UNIVASF e o último no Centro de Treinamento de Líderes de Carnaíba do Sertão, Diocese de Juazeiro/BA –, o curso de formação totalizou 384hs de atividades entre julho de 2018 e novembro de 2019 e atendeu vinte e cinco alunas/os provenientes de diferentes estados e cidades: Ceará (Ocará, Pacujá e Baturité), Bahia (Irecê, Ibotirama, Juazeiro, Piripá, Jacobina, Senhor do Bonfim e Itaetê), Piauí (Santo Antônio de Lisboa, Curral Novo, Barras, Cristino Castro, Simões, Porto e União), Pernambuco (Palmares e Tracunhaén), Rio Grande do Norte (Mossoró), Paraíba (Alagoinha) e Alagoas (Maceió). O Polo Nordeste contou com a atuação de professoras/es e profissionais provenientes de diferentes regiões e instituições: UFF, Unicamp, UFPE, UFBA, UFRB, UNEB (Senhor do Bonfim), IF-Sertão (Petrolina), CAR-BA (Pró-Semiárido), além da UNIVASF, interseccionando saberes de diversas áreas: Antropologia, Geografia, História, Teologia, Sociologia, Direito, Psicologia, Ciência Política e Educação.

O segundo projeto de extensão, Sindicalismo no Brasil: correntes e expressões na Educação, coordenado pelo Prof. Herlon Alves Bezerra (IF Sertão-PE – Campus Petrolina), que estruturou o curso de extensão Seminários de Formação Sindical no Sertão PE/BA – Sindicalismo no Brasil: história e desafios, ofereceu 80 horas de formação em entidades sindicais de Petrolina e de Juazeiro e deu ensejo à formação do Fórum de Formação Sindical do Sertão PE/BA, composto por uma série de entidades: SINASEFE IF SERTÃO-PE (Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica), SINTEPE (Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Pernambuco), SINDUNIVASF (Seção Sindical dos Docentes da UNIVASF), SINPRO (Sindicato dos Professores do Estado de Pernambuco), SINDAE (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente no Estado da Bahia) e UNEGRO/BA (União de Negros pela Igualdade), além de militantes do próprio Fórum. Os encontros ocorreram no SINTEPE, na APLB (Sindicato dos Trabalhadores em Educação das Redes Públicas Estadual e Municipais do Ensino Pré-Escola, Fundamental e Médio do Estado da Bahia), no STTAR (Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Petrolina) e no STR-Juazeiro (Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Juazeiro). Esse projeto marcou uma cooperação produtiva entre o HABITUS – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Política (IF Sertão-PE), coordenado pelo Prof. Herlon, e o Krisis – Laboratório de Antropologia, Filosofia e Política (UNIVASF), à época coordenado por Adalton Marques.

Desses dois projetos, que abrigaram uma série de narrativas de lutas por terra e pela Terra (na medida em que opõem-se ao desenvolvimentismo irresponsável), por direitos (e pelo alargamento da noção de cidadania), trabalho (mas não o trabalho precarizado que forma o novo precariado urbano), inclusão (mas não a inclusão pela dívida), participação política (mas não por delegação passiva) e também pela ressignificação de valores que normalizam nossas vidas (definindo a fronteira entre o normal e o desviante), surgiu a necessidade de se produzir uma espécie de morada para tantas memórias combativas: um memorial pluralista das lutas e reivindicações que ajudam a contar a história do Vale do Submédio São Francisco.

Foto de capa: Assembleia de trabalhadores no Centro de Treinamento de Líderes de Carnaíba do Sertão – Diocese de Juazeiro-BA, 1990. Arquivo CPT Juazeiro.